No passado dia 2 de novembro de 2016 foi momento de reflexão para 9 Projetos CLDS 3G do Distrito de Braga no âmbito da filosofia de intervenção do EIXO II – Intervenção familiar e parental, preventiva da pobreza infantil que atua junto de famílias com menores e pessoas maiores em situação de solidão e isolamento.
Este momento de reflexão contou com a presença e colaboração de dois convidados, professores universitários, com conhecimento e experiência em ambas as vertentes deste Eixo, o Professor Dr. Manuel Sarmento, Professor Associado com Agregação do Instituto dos Estudos da Criança da Universidade do Minho e a Professora Dra. Carla Faria, Coordenadora do Curso de Educação Social Gerontológica, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, que desde já agradecemos o excelente contributo quer no conhecimento partilhado quer no processo de avaliação construtiva e reflexiva deste Encontro.
Contamos também com a presença das interlocutoras da Segurança Social do Distrito de Braga para os CLDS 3G, Dra. Helena Areias e Dra. Isabel Machado.
Numa primeira fase deste encontro os vários representantes dos Projetos apresentaram as dinâmicas que se encontram em prática nas principais ações deste Eixo:
– Estratégias direcionadas para a mediação de conflitos familiares, particularmente no caso de famílias com crianças;
– Estratégias direcionadas para as crianças e jovens promovendo estilos de vida saudáveis e de integração social, numa perspetiva holística e de envolvimento comunitário;
– Estratégias genericamente aplicáveis ao nível da qualificação das famílias;
– Ações de combate à solidão e isolamento das pessoas idosas;
Numa segunda fase, em pleno momento de reflexão, as grandes questões levantadas e discutidas entre todos foram:
– Estaremos no bom caminho para a Inclusão Social?
– Estão os parceiros fundamentais, (Redes Sociais, Municípios, outros agentes da politica social) conscientes e preparados para trabalharem e usarem as suas sinergias para atingirem objetivos estruturantes dentro das politicas sociais concelhias e regionais?
– Não estarão estes Projetos a promover ações/dinâmicas, com criatividade e grande humanismo sem dúvida, mas segmentadas, clinicas e sem diagnósticos profundos que as sustentem?
– Quais as características da chamada pobreza infantil em cada concelho em que estamos a intervir? Ela estará bem identificada?
– O que é para estes Projetos e as várias estruturas sociais dos concelhos o combate ao isolamento dos mais idosos? E para estes, o que é estarem ou sentirem-se em isolamento?
– Não estaremos a fomentar mais ações remediativas, que se vão perder no vazio futuro sem tocar as consciências metodológicas das diferentes estruturas de intervenção social?
– Não estaremos a assumir as nossas dinâmicas na base do “beneficio” imediato, em vez de promovermos a participação consciente dos grupos a montante?
Após debate sobre estas questões foram propostas algumas linhas de orientação e reflexão para os técnicos e comunidade institucional que os protagonizam:
– Principio da interinstitucionalidade: sairmos das lógicas individualizadas e clinicas na nossa intervenção. As instituições protagonistas e parceiras devem estar conscientes da sua intenção social no processo de mudança e tipo de impacto a alcançar;
– Intergeracionalidade: em todas as dinâmicas as pessoas devem ser os atores sociais e não apenas assumirem o estatuto de beneficiários passivos. Para tal é necessário existir um conhecimento ou diagnóstico claro e partilhado pelos próprios, na identificação das suas reais necessidades.
– Intersectorialidade: não estarmos sós nas nossa forma de trabalhar, planear e intervir. A articulação com universidades, pares de várias áreas do conhecimento é fundamental para uma avaliação e reflexão profundas das práticas destes Projetos, contribuindo para a tomada de consciência das metodologias de intervenção social mais ajustadas;
– Rede Social: etimologicamente o principal significado é “suporte”. As redes sociais são fundamentais alicerces e catalisadores de qualquer projeto de intervenção de politica social. O seu divórcio ou envolvimento ténue terá certamente o efeito de “armadilha ou emaranhamento” das consciências e interesses das instituições que a constitui;
– Diagnóstico e contextualização: normalmente apegamo-nos a estatísticas generalistas e de grandes números de impacto nacional, mas que não expressam os contextos onde se inserem estes Projetos de Proximidade. Dai a importância do papel das redes sociais na valorização de um diagnóstico pormenorizado, filtrado e realista para que as ações sejam enquadráveis e com resultados objetivos e satisfatórios e com impacto nas politicas de desenvolvimento social futuras;
– Participação e protagonismo: não assumirmos o nosso publico como destinatários, mas cidadãos. O conceito de cidadania implica protagonismo, participação, opinião, disputa, hegemonia e empoderamento. Temos de ter capacidade de capacitar, criando e gerindo dinâmicas de contributo.
Concluindo, os CLDS 3G estão realmente condicionados e limitados pela extrema burocratização do processo, limitados no tempo, mas têm em si um grande potencial sinergético que se forem assumidos e conjugados com as ações locais serão uma ferramenta fundamental no caminho de mudança social positiva.